A veterinária e behaviorista animal Dr. Sophia Yin é autora do livro “Low Stress Handling and Behavior Modification of Dogs and Cats”, recém lançado em e-book. Nesse livro, a Dr. Yin ensina tutores de cães (e gatos) a reduzir a ansiedade dos animais nas atividades do dia-a-dia. Se o animal está petrificado no veterinário, arisco com visitas, ou simplesmente não gosta de cuidados simples como higiene, a Dr. Yin compartilha os segredos para a modificação de comportamento usados por profissionais.
Nesse artigo, a Dr. Yin escreve sobre um problema que encontra com frequência: os cães ficam muito apreensivos com estranhos. Esse é um comentário típico de quem busca ajuda para essa situação: “Meu cão parece legal com as pessoas. Ele consegue andar nas multidões e geralmente ignora convidados, mas se um estranho tenta se aproximar e afagá-lo, ele se afasta e rosna. Ou pelo menos era o que ele fazia. Agora ele às vezes late e ocasionalmente morde. Por que ele não percebe que as pessoas estão tentando ser amigas?”
A Dr. Yin explica o problema:
Por que o cão estranha pessoas amigáveis?
O principal problema é que ele não teve experiências positivas com uma variedade de pessoas não familiares durante seu período sensível de sociabilização nem depois. Das três semanas aos três meses de idade, os filhotes estão preparados para explorar e criar laços. Se ele conhecer e cumprimentar todos os tipos de pessoas em muitos tipos de ambiente e boas coisas acontecerem simultaneamente, eles tendem a generalizar que as pessoas são sempre amigáveis. Então, se essa sociabilização continuar até a adolescência, o comportamento relaxado com as pessoas será parte de sua personalidade. Já esses cães não tiveram o tipo ou a quantidade de experiências que precisavam, e acabaram se tornando assustados na presença de pessoas desconhecidas. Veja aqui como sociabilizar um filhote.
Como as pessoas pioram o problema
É claro que as pessoas, sem querer, acabam piorando o problema. Primeiro, esqueceram a regra de ouro – peça ao animal primeiro. Ao invés disso, simpatizantes se aproximam muito depressa, lotam de pessoas e pairam sobre o filhote como uma tempestade pronta pra despejar a carga. Sob essa pressão, alguns cães vão congelar ou se retrair, fingindo que é tudo só um pesadelo. Outros agem – geralmente com um latido reflexo ou resmungo. Tendo alguns sucessos a mensagem fica alta e clara: quando estranhos se aproximam, rosne e lata para mantê-los longe. Em pouco tempo, seu cão doce e um pouco inseguro, se transformou em uma massa de estrondo defensivo.
Alguns tutores reagem reprimindo ou punindo seus cães. Isso vai ensinar a ele que é melhor esconder o medo de você, mas isso não elimina o medo dentro dele. Como resultado, o cão pode não mostrar mais sinais de que quer as pessoas bem longe. Ao invés disso ele reprime o sentimento até não poder mais e então explode em uma grande mordida.
Por que pessoas amigáveis parecem assustadoras?
Muitos humanos não entendem por que os cães têm medo delas quando estão obviamente fazendo gestos humanos amigáveis. Troque de lugar com o cão e tudo ficará mais claro. Digamos que você tenha medo de aranhas e um amigo coloca uma tarântula bem no seu rosto. Se ele disser ao mesmo tempo, “É uma tarântula amiga. Veja sua expressão amável” ou “Ela não vai machucar, é so um bebê inocente”, você sentiria segurança de repente?
Não. Na verdade, o único jeito de se acostumar com a aranha seria se a cumprimentasse em seu próprio ritmo. Isso significa que ela teria que estar em uma mesa ou em alguns locais onde você pudesse controlar a distância entre vocês. Depois, quando estivesse pronto, você poderia gradualmente se aproximar e talvez até tocá-la. O mesmo acontece com cachorros. Os cães não estão acostumados a encontrar muitos tipos de estranhos, especialmente se eles já eram tímidos quando foram adotados, ou receberam sociabilização supervisionada mínima com outros tipos de humanos. Se você entrar no espaço pessoal do cão ou se mesmo de pé você se aproximar para deixá-lo cheirar sua mão ou afagá-lo, ele pode se sentir ameaçado e não ter certeza de suas intenções. Para ele, sua mão pode significar qualquer coisa.
Se porém, você se agachar em um joelho enquanto olha em outra direção, ele pode se aproximar e cheirar você em seu próprio ritmo. Você pode acelerar a amizade se deixar cair, “sem querer”, saborosas guloseimas perto de você. Se ele pegá-las sem hesitar, você pode segurar as guloseimas na mão desviando o olhar para que o tímido cão se aproxime.
Geralmente as pessoas conseguem atravessar essa fase inicial sem problemas, mas depois fazem um movimento rápido e inapropriado assustando o cão, que sai correndo. Essa situação continua parecida com a aranha gigante. Mesmo que você fique finalmente confortável para tocar a tarântula, se ela se mover de repente ou balançar uma das pernas no ar, você pode sair correndo de medo. Para você, esses movimentos podem sugerir imagens de uma tarântula pulando e mordendo, enquanto para ela os movimentos foram apenas uma mudança de posição ou mesmo um sinal de amizade. Assim, o truque para garantir que você não vai assustar o cão após essa saudação inicial é acostumá-lo gradualmente com você em diferentes posições. Evite tocar sua cabeça ou segurá-lo ou abraça-lo, pois ele se sente confinado. Ao invés disso, mova-se suavemente para que ele tenha a chance de recuar.
Leia os sinais do cão
Provavelmente o maior problema com esses cães é que os humanos não reconhecem os sinais piscando em neon na postura do corpo e nos movimentos do cachorro. Ele diz, “Socorro! Estou com medo. Vá embora.” Ele pode estar tenso com os olhos se movimentando ou com olhar distante enquanto ele se encolhe. Ou ele pode bocejar, lamber os lábios ou ficar ofegante quando não está com calor. Às vezes ele começa a se mover em câmera lenta, como se estivesse se esgueirando, ou suas orelhas vão para trás enquanto sua testa fica franzida com ar preocupado. E de repente seu rabo abaixa, ficando entre as pernas. Esses são sinais de ansiedade ou medo.
O que fazer se encontrar sinais de medo
Se notar esses sinais quando alguém tenta afagá-lo, afaste a pessoa rapidamente para ficar fora do alcance do cão. Ao mesmo tempo tente explicar “Ele se assusta quando novas pessoas se aproximam muito depressa”. Ao mesmo tempo, chame a atenção do cão para você e o recompense por algo bom, como sentar e olhar pra você, ou realizar alguns truques. O objetivo é mudar o estado emocional de assustado para feliz, para que ele associe pessoas desconhecidas com coisas boas. Consequentemente seu medo vai embora. Estranhos também podem atirar recompensas sem encará-lo, mas a menos que tenha certeza de que o cão está confortável, é melhor evitar deixar alguém afagá-lo, a não ser que seja um treinador profissional.
Para as pessoas cumprimentarem cães desconhecidos
É importante que você também observe a linguagem corporal. O cão pode pegar o que você oferece, mas não quer dizer que ele está pronto pra ser tocado. Observe as respostas para tudo que você faz, pois às vezes uma elevação dos lábios quer dizer: “Isso é muito assustador pra mim. Agora eu vou morder.” Ao invés disso, fique feliz em oferecer coisas, admire o cão sem tocá-lo e saiba que está dando a ele uma boa experiência.
Qual linguagem corporal indica que o cão está seguro?
A linguagem corporal que você espera ver é aquela que indica que está tudo bem. O cão deve ficar relaxado com olhar firme e suave. Seu rabo deve abanar ou estar para baixo relaxado.
A solução
Se os humanos deixarem os cães se aproximarem em seu próprio espaço e em seu próprio ritmo, e até fazerem truques de aparecimento de guloseimas no chão sem pressionar o cão, eles vão conseguir muitas saudações favoráveis e ajudar o cão a ter experiências positivas com pessoas estranhas também.